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sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Artigo:Faça-se a Luz... (Roberto Cacciari)

 
 
Dia desses, assisti na TV um programa muito interessante. Tratava-se de um documentário sobre um restaurante europeu. Não mais um documentário sobre receitas exclusivas, pratos típicos, lugares exóticos, nada disso. O restaurante em questão é muito diferente de tudo que já se viu. Ele tem uma característica única. Ele é totalmente escuro. Lá dentro ninguém enxerga nada. Escuridão total. Os clientes são recebidos à porta e fazem o pedido lendo o cardápio. Pedem também as bebidas. Logo após aproxima-se uma cicerone que vai levá-los a sua respectiva mesa. Ela é especial, pois é totalmente cega. A operação da entrada e condução ao lugar reservado se dá em forma de “trenzinho” um, com a mão no ombro do outro, tendo a frente a cicerone cega. Depois de instalados, começa o “baile”. Como saber onde está o garfo? O copo com a bebida? E o prato então com sua respectiva comida? Filmados por uma câmara de lente especial (que filma no escuro) as trapalhadas logo deram início. A namorada quis dar um pouco da sua bebida ao namorado. Ele virou e ela enfiou-lhe o copo na orelha. Ele gritou: “É minha orelha”. Não adiantou, a garota carinhosa deu-lhe um banho de vinho. O casal da frente tentava em vão, encaixar um garfo com um pouco de comida na boca do outro. Foram várias espetadas e desistência no final. Na saída todos davam os depoimentos. O que tinham achado da experiência. Todos repetiram em comum: É muito difícil viver sem a visão. Concordo com isso.
 
Respeito e admiro muito quem vive em sorrisos sem poder enxergar. Mas fico muito triste comigo, pois mesmo podendo enxergar não consigo, na maioria das vezes, ver. Confesso sou um cego que às vezes enxerga. Deveria ter olhos de ver como nos disse Jesus. Ver os sorrisos que permeiam uma alegria sincera. Ver uma mãe carinhosa carregando no peito o filho do amor da sua vida.

Deveria ver também os anônimos nos seus esforços diários. Aqueles que lutam com a vida sem que ninguém os veja. As suas lágrimas... tampouco e os raros momentos de felicidade. Mas seria bom se fossemos cegos também. Por que não? Teríamos mais dificuldades de ver nos outros os defeitos que também carregamos. Não viveríamos então julgando. Condenando. Sentiríamos mais pelo coração, nosso toque seria assim mais suave, nossos ouvidos captariam o som da natureza. Teríamos mais respeito pelas pessoas “especiais” e suas várias dificuldades. Teríamos dentro de nós a luz dessas construídas com o amor e nunca mais tatearíamos no escuro...

Roberto Cacciari é empresáro e vice-prefeito de Catanduva.




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