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terça-feira, 8 de março de 2011

Artigo: Tenho a impressão que meu cachorro fala comigo!



Tenho a impressão que meu cachorro fala comigo!

Sim, a frase acima é comumente dita por pessoas que vivem em contato constante com seus cães. Esses peludos espertos realmente tentam se comunicar com a gente. O que acontece, na maioria dos casos, é que os donos ou não entendem mesmo o que os cães querem dizer ou tendem a não querer admitir que isso esteja ocorrendo.

Para que vocês entendam o que pode ocorrer quando e com qual intensidade isso ocorre, vou contar um episódio que aconteceu comigo. Os nomes e lugares foram modificados para não comprometer os envolvidos nos fatos.

S.O.S EDUCADOR CANINO:

Certo dia fui chamado para atender um caso de comportamento inadequado de um cão, que estava atacando as pessoas da casa em que ele morava. Quando cheguei no local, como sempre faço, comecei a entrevistar todos da casa para conseguir, de forma imparcial, as informações do que realmente estava ocorrendo.

Chamei todos na sala e comecei a sabatina sobre o cão. Procurei saber quando o problema havia começado. Percebi algo estranho com relação à dona do cão, que vamos chamar de "Petruquio". Sempre que um rapaz, que me foi apresentado como noivo da dona do cão, se aproximava ela se afastava.

DESCOBRINDO O PROBLEMA:

Todos estavam sentados. A noiva e seu noivo sentaram-se nas extremidades do sofá. O restante da família se ajeitou em seus lugares e começamos uma descontraída conversa. Perguntei qual era o problema. Todos responderam, ao mesmo tempo, que “Petruquio” estava ficando louco e mordendo o pé de todo mundo. As vítimas eram desde a irmã mais nova até a vovó, cujo ‘ataque’ tinha acontecido dois dias antes de minha estada lá, o que estava resultando num ultimato para o pobre “Petruquio”, fazendo com que ele que se tornasse um forte candidato a ser entregue pelos donos ao CCZ.

Perguntei quando o problema havia começado. A vovó respondeu que isso vinha acontecendo a, aproximadamente, 4 meses e que antes disso ele era um cachorro normal, cheio de energia e bagunceiro. Questionei como era a rotina do “Petruquio” na casa. Comecei a ter certeza do que estava acontecendo. O noivo falou em voz alta, em tom de indignação, que ele era tratado como um reizinho e que ninguém dava limites a peludo.

Imediatamente, a dona do acusado se rebelou e acusou o rapaz de ser um tirano e que, sempre que possível, batia sem motivos em “Petruquio”.

BATE BOCA E O FIM DO CASAMENTO:

Começou um briga daquelas na minha frente. O pessoal do: “deixa disso, vamos parar, olha a visita” entrou em ação. Quando tudo parecia normal, o jovem rapaz me questionou se da forma como a dona tratava o cachorro era possível viver em um apartamento, pois eles iram se casar em alguns dias.

Muito indignada e mostrando muita raiva a moça gritou, enquanto caminhava para seu quarto, que ele poderia ficar tranquilo porque não iria acontecer mais casamento algum!

Fiquei sem saber o que fazer, afinal um casamento havia terminado na minha frente. Logo tudo ficou mais calmo. A mãe e a irmã foram consolar a moça que estava aos prantos. O rapaz saiu da casa e entrou em seu carro como se fosse partir. Na sala, ficamos apenas a avó eu. Nesse momento, vi uma oportunidade de ajudar em duas situações simultaneamente: evitar a perda do lar do “Petruquio” e de ajudar o casal a se reconciliar.

Conversando com a vovó, que apenas ria de tudo dizendo que o povo daquela casa estava mais doido que o cachorro. Descobri alguns detalhes que não haviam sido falados até aquele momento. Pedi para ver o cão mordedor e me foi apresentado um feliz e estabanado Old Sheep Dog, que se parece com a Priscila “Tv COLOSSO”.

O PROBLEMA:

A vovó me confessou que o casamento já havia sido marcado e que quase tudo estava pronto e que há, aproximadamente, cinco meses eles teriam contratado um Buffet que cuidaria da festa, mas após pagarem a descobriram que tinham caído num golpe e tudo o que haviam planejado teria se perdido e que o cachorro somente mordia os pés das pessoas como se tentasse encurralar ou conduzir a algum lugar.

Nesse instante fiz minha estratégia para consertar as coisas. Falei com a moça, que se derretia aos prantos. Consegui convencê-la a me acompanhar numa seção de treinamento que aconteceria em um grande parque da capital com o intuito de dar mais disciplina ao cão descontrolado. Em seguida, falei com o rapaz, que estava muito triste e com cara de perdido. Pedi que ele me acompanhasse na mesma seção de treinamento. Detalhe: meu compromisso com ele era 20 minutos do marcado com a moça.

ENCONTRO MARCADO, NAMORO REATADO: PROBLEMA RESOLVIDO!

No final de semana o encontro esperado. A moça chegou no horário com o cachorro e começamos um treino leve.“Petruquio” mal se continha de felicidade. Vinte minutos depois aparece o rapaz, que, surpreendido com a presença da moça, fechou a cara e ficou bravo comigo. Convenci o rapaz a ficar.

Expliquei que sabia o que estava acontecendo. Contei sobre as origens da raça do “Petruquio”, originalmente essa raça era utilizada para tomar de conta de rebanho, e também ser guardião, motivo pelo qual o comportamento do peludo estava mudando. Como um bom cão de pastoreio e guarda, “Petruquio” estava presenciando uma situação na qual poderia ficar inerte: a família, ou seu rebanho, estava se desgarrando, se afastando por causa das brigas. Ele, como um bom cão de pastor, tratou de juntar as pessoas com a qual se importava.

Nosso cão descontrolado era o único que estava tentando fazer algo para juntar o casal e a família, que, por conta do episódio do Buffet, estava em pé de guerra e dividida. Como os cães não sabem falar ou escrever ele teve que usar seus próprios recursos para evitar que um mal maior ocorresse: a divisão do rebanho. Apesar de seu esforço, “Petruquio” não foi compreendido e pior: foi diagnosticado por todos como louco.

Após mostrar que o cão só queira ajudar, o casal imediatamente se abraçou e puxaram o pobre “Petruquio” que, sem saber de nada, quase foi esmagado. Peguei o cachorro dos dois pombinhos e disse que eles precisavam conversar. Recomendei que levassem todos os dias “Petruquio” para se exercitar junto com eles. Deixei os dois sozinhos e fui passear com o aquele cachorro que estava louco para correr.

LIÇÃO:

Nós (humanos) temos uma grande tendência a culpar alguém pelos nossos problemas e as coisas ficam feias quando envolvem um pobre cão que não pode se defender. Por isso, é bom, antes de culpar seu cão, olhar bem para ver se ele não está dando sinais que algo está errado. Procure ajuda, se necessário, antes de tomar uma medida drástica. Ah! Já ia me esquecendo: o casal se casou na data marcada, levaram “Petruquio” junto e ele nunca mais mordeu ninguém. Agora ele está feliz com seu rebanho!

Jorge Pereira é Cinotécnico e Etólogo, especializado em comportamento canino, especial para o Blog do Davis Quinelato.

Colaboração e Agradeciemnto: Mauricio Vicentin

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