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quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Artigo: A Cruz de Cristo (Mario Eugênio Saturno).




A Cruz de Cristo

Creio não ser segredo para ninguém que o Velho Testamento utilizado pelos primeiros cristãos era a versão em grego e não a hebraica. Isso é facilmente verificável pela análise do Novo Testamento nas partes que copia o Velho. Porém, hoje, falamos o português, língua recente, existem péssimas traduções que levam muitos ditos evangélicos a cometerem erros incríveis.

Um erro comum de tradução refere-se ao corpo de Cristo, a Eucaristia. Vemos em Mt 26,26-28; Mc 14,22-24; Lc 22,19s; 1Cor 11,23-25 que muitos traduzem como: “Tomai, comei; isto significa meu corpo... Isto significa meu sangue”. Isso porque confundem a palavra “esti” (é) com “semainei” (significa). Cabe lembrar que esse erro não é cometido pelos protestantes, apesar de que não aceitam Cristo na Eucaristia. Portanto, a Bíblia diz: “Isto é meu corpo... Isto é meu sangue”. Não há duvida, a não ser a semeada pelo pai da mentira!

Outro erro refere-se à cruz. Afirma-se que a cruz é um símbolo pagão e que Jesus teria sido pregado em uma estaca e com as mãos transpassadas por um só prego. Isso porque traduz-se a palavra grega “staurós” por estaca ou estaca de tortura e não por cruz.

Originalmente, “staurós” significava poste, conforme se pode ver em Homero, Esíquio e outros. Porém, passou a significar duas traves (uma vertical e outra horizontal) atravessada uma na outra. E tanto os escritores pagãos como os cristãos nos apresentam a cruz no tempo de Cristo usada para punir os criminosos: havia uma trave vertical chamada “stipes” ou “staticulum”, e uma outra dita “patibulum”, que era fixada à anterior em sentido horizontal. O réu era preso à trave horizontal com os braços abertos e depois fixo ao poste vertical.

Isso pode ser verificado em Plauto, poeta romano (+ 184 a. C.): “Patibulum ferat per urbem, deinde adfigitur cruci. – Carregue o patíbulo através da cidade; depois seja preso à cruz”. Também em Firmício Materno, retórico pagão feito cristão (séc. IV d.C.): “Patibulo suffixus, in crucem tollitur. – Pregado ao patíbulo, é erguido na cruz”.

A mais antiga representação da cruz de Cristo data do século II: no Palatino (Roma) se encontrou um grafito, que apresenta a Cruz com dois braços e um Crucificado com cabeça de asno, diante do qual se vê um indivíduo em adoração. – Uma inscrição explica: “Alexámenos venera o seu Deus”. – Este desenho bem ilustra como os antigos pensavam ter sido a Cruz de Cristo.

São Justino (+ 165 d. C..) vê em Moisés rezando com os braços estendidos (Ex 17,10-12) a figura de Jesus intercedendo pela humanidade, pregado à Cruz (Diálogo com o judeu Trifão 90,4). E, ainda, cita Tertuliano (+ 222), autor cristão, a cruz de Cristo (De Oratione 29,4). Isso bem antes do Imperador Constantino (285-337) ter introduzido a Cruz de dois braços. D. Estevão Bettencourt nos mostra a importância de estudar bem antes de pregar. Eu diria que pregar o erro é pregar Cristo na Cruz.


Mario Eugenio Saturno é Tecnologista Sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), professor do Instituto Municipal de Ensino Superior de Catanduva e congregado mariano. (mariosaturno@uol.com.br)

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